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O poder do rótulo

Texto: Karen Marques


Odeio ser rotulada. Com as palavras ódio e rótulo na mesma frase, só tomando um café preto sem açúcar para conseguir escrever sobre tal, já que uma dose de uísque, de preferência um Bourbon não é possível nesse momento.

De acordo com o dicionário Aurélio, a palavra rotular significa: colocar rótulo ou etiqueta em; qualificar de modo simplista; classificar, reputar. Se pedirmos, poucas pessoas conseguem descrever um objeto com precisão, um sentimento muito menos, um país, uma região... Embora, essas mesmas poucas pessoas serem peritas em análise pessoal, o que vale ressaltar que do outro, é claro.

Somos analisados com base no que as pessoas, em seus contos de fadas, acreditam ser o certo, O CORRETO, o legal, o justo, o bom e todos os demais adjetivos. O problema é que um conto de fadas é um ponto de partida tão raso para submeter o outro a essa análise. Seria como pegar o Príncipe Encantado da Disney e colocá-lo para interpretar o Hitler em algum filme da Segunda Guerra Mundial. Não tem sentido algum. Totalmente sem eira e nem beira.

O que me dá um respiro é que o fator determinante é que existem mais de 7 bilhões de pessoas no mundo. Assim sendo, são 7 bilhões de opiniões – não que conhecemos essas 7 bilhões, é claro! – mas, cada cabeça é uma sentença. Cada cabeça pensa baseado de acordo com seus padrões, com suas experiencias de vida, com suas histórias, suas vitórias, seus fracassos e sobretudo, com suas crenças. E que injustiça, né? Porque o outro não passou pela mesma estrada que você, ele não trilhou os mesmos caminhos, não viu as mesmas paisagens, ou seja, essa conta não fecha.

E todo santo dia somos sentenciados. Sentenciados se somos imaturos por termos tido determinado comportamento. Sentenciados se somos retrógrados por agirmos de determinada forma. Sentenciados se somos fúteis, se somos supérfluos. Sentenciados sem direito ao advogado, sem direito à defesa. Simplesmente - VOCÊ É ISSO E PONTO.

Oi? Como? Por quê? PONTO.

Sinto tanto por não sermos sentenciados ao bom, ao belo, ao positivo. Eu costumo dizer que quando algo no outro me incomoda, a ponto de eu o levá-lo direto para ser queimado na fogueira, aquilo diz mais sobre mim do que sobre o outro, mas obviamente eu não vou queimar um dedinho meu sequer. Aquilo é algo que eu preciso arrumar dentro de mim. Quando eu pretendo tirar o cisco do outro ao invés de me preocupar com a trave no meu olho é porque minha vida ou está muito bem resolvida e eu estou sem ter o que fazer, ou está muito sem sentido e eu busco diminuir o outro para que eu me sinta bem – se é que isso é possível.

Ainda assim, eu prefiro estar na cadeira do acusado do que estar na cadeira do juiz. Ser juiz é pesado. Ser juiz da vida alheia mais ainda e dos sentimentos então? Deveria ser pecado. Com pena direto para o umbral sem direto a fiança e nem a liberdade provisória, a nem um rápido passeio no purgatório.

Não queira ser juiz. Não queira ser acusado. Não queira ser o rotulador. A coisa mais linda é alguém olhar para você e dizer: Eu gosto de você do jeitinho que você é. Parece que tira tanto peso das costas, não é mesmo? E de fato tira, porque tira a expectativa que o outro tem sobre você. E se você nunca ouviu isso, seja a pessoa quem vai dizer as outras pessoas, aos seus amigos, aos seus familiares, ao mundo: Eu gosto de você do jeitinho que você é.

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