Texto: Kah Marques
Depois de quase trinta minutos no telefone desabafando sobre minha segunda-feira 13, aonde, minhas orelhas já estavam quentes (“as” porque já havia revezado o celular da orelha esquerda para a orelha direita), porém eu continuava a tagarelar sem filtro, sem nexo e sem sentido. Naquela noite eu apenas falava, falava, falava e do fundo do coração desejei que minha amiga que estava do outro lado da linha tivesse afastado o telefone por algumas vezes (na verdade ela deveria ter desligado na minha cara há muito mais tempo). De repente meu cachorro começa a latir insistentemente. Aliás, eu não sei se foi de repente, ou, se ele já estava há muito tempo latindo e eu que eu não havia escutado.
Até porque, como eu iria escutar se tudo o que havia naquele momento era meu desabafo?
Não havia espaço para nenhuma outra voz que não fosse a minha. Como se estivesse acordando de um sonho, agradeço a minha amiga do outro lado da linha e encerro a conversa. Ao sair no quintal o vi deitado no chão, rolando de um lado para o outro, continuando a latir e quando me viu, ele simplesmente parou, olhou para mim e vindo ao meu encontro (eu estava sentada na porta da casa) ele simplesmente me deu uma lambida (daquelas feitas com gosto) e simplesmente foi deitar e dormiu. Fiquei imóvel por uns bons minutos refletindo sobre o que acabara de acontecer.
Vivemos tão ansiosos e estamos a todo momento tão agitado querendo falar que muitas vezes nos esquecemos de ouvir. A lambida que ganhei do meu filhote me acalmou muito mais do que tantos minutos tagarelando. Não estamos ouvindo. Nossa boca está em processo de aceleramento sem freio, mas nossos ouvidos estão ficando surdos. Não escutamos.
Te pergunto: Quando foi a última vez que você ouviu um passarinho cantarolar no seu quintal?
Ou ouviu sua música favorita sem estar fazendo alguma outra coisa? Quando foi a última vez que você se permitiu a somente escutar o outro, sem estar mentalmente pensando na resposta que vai dar ou no que vai dizer? Pois é, eu me fiz essas perguntas depois que engatei na insônia. Precisamos escutar mais.
Precisamos escutar o que outro não está nos dizendo em palavras, mas está suplicando em atitudes e expressões. Precisamos escutar o barulho da chuva, o sussurrar do orgasmo, o leite fervendo no forno, o pedido de desculpas. Precisamos ouvir o vento balançando as árvores, a nossa respiração e sobretudo, as batidas do nosso coração porque ele conversa conosco, sendo que muitas vezes ele grita e estamos ocupados demais para conseguimos ouvi-lo.
Na busca para que nos digam o que queremos ouvir, acabamos não nos dando conta do que
de fato “precisamos” ouvir. E acredite ou não, todas as respostas estão dentro de nós.
O nosso coração nos responde, a nossa mente nos responde, a nossa respiração e transpiração nos responde, sobretudo, no nosso silêncio também há respostas.
Portanto, volte para dentro de si. Não estou dizendo que meu jeito é o jeito certo, mas pode ser uma opção a ser considerada. Analise o que seu corpo está dizendo a você, consequentemente conseguira ouvir muito mais que as respostas que precisa, mas aprendizados que nenhum outro ser em voz alta poderá te dizer. E foi assim que eu consegui pegar no sono.
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