Cerca de 20 mil pessoas morrem anualmente no Brasil em consequência da automedicação. Por conta dos riscos que esta prática representa para a sociedade, foi criado o Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos, comemorado em 5 de maio. A data foi originada – a partir de um movimento realizado por estudantes de Farmácia, em 1999, que idealizou e estruturou a campanha até os dias atuais – com o intuito de alertar a população para os riscos da automedicação e do uso indiscriminado de medicamentos. O objetivo da ação é destacar os perigos da automedicação.
De acordo com a médica otorrinolaringologista Juliana Caixeta, essa campanha é importantíssima, por conta dos riscos da automedicação, uma prática muito comum entre os brasileiros. “Essa comemoração é uma oportunidade de conscientizar as pessoas de que estão colocando suas vidas em risco quando pulam a consulta com o médico e consomem os remédios de forma independente e não supervisionada”.
A automedicação consiste na prática de ingerir medicamentos sem o aconselhamento ou acompanhamento de um profissional de saúde qualificado. Ou seja, o indivíduo resolve ingerir remédios por conta própria. De acordo com dados da Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas (Abifarma), cerca de 20 mil pessoas morrem anualmente no País como consequência da automedicação.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) entende que o uso racional de medicamentos ocorre quando é realizada a prescrição dos remédios certos para cada paciente, nas doses necessárias, pelo tempo adequado e pelo menor custo possível para o paciente e a comunidade. Entretanto, dados do Conselho Federal de Medicina indicam que 77% dos brasileiros fazem o uso de medicamentos sem qualquer orientação médica.
O uso indiscriminado de fármacos e a prática da automedicação estão entre as principais causas de acidentes relacionados a medicamentos no Brasil. Dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) mostram que a intoxicação por automedicação aparece no topo da lista de intoxicações no País, acima dos registros de intoxicações por produtos de limpeza, agrotóxicos e alimentos estragados. A entidade ainda destaca que antitérmicos, analgésicos e anti-inflamatórios estão entre os medicamentos mais utilizados por conta própria.
A principal causa da automedicação é o desejo de aliviar rapidamente os sintomas iniciais como dor de cabeça, dor muscular, dor na garganta, febre e diarreia. Segundo a médica Juliana Caixeta, o perigo está justamente neste ato. “Esses sintomas iniciais funcionam como alertas, ou seja, indicam que algo de errado está acontecendo no organismo, por isso não basta tomar um medicamento para aliviar a dor ou outros incômodos”. A médica ainda explica que ao praticar automedicação, a pessoa pode mascarar o real problema, agravando seu quadro de saúde e até desencadeando outras patologias graves.
Os perigos da automedicação são diversos e contam com diferentes níveis de risco. A médica destaca algumas preocupações com quem tenta se tratar por conta própria. “A pessoa não capacitada na área pode cometer erros que um profissional da saúde dificilmente cometeria, como por exemplo fazer combinações inadequadas dos fármacos”.
Juliana Caixeta destaca que essas combinações inadequadas podem causar convulsões, coma, hemorragia e taquicardia. Estes são sintomas frequentes da mistura de medicamentos incompatíveis. “Se o problema na medicação não for descoberto rapidamente, os sintomas podem se agravar e o paciente pode vir a falecer”, alerta. A médica cita como um exemplo de combinação perigosa e a de anti-inflamatórios e paracetamol. “Em alguns casos a união desses remédios pode gerar problemas renais levando a quadros hepáticos”, esclarece.
Outra questão preocupante com relação à automedicação é o uso abusivo de medicamentos e o risco da dependência. “Podemos nos viciar em quase tudo, de Coca-Cola a celular. Claro que com os medicamentos isso não seria diferente, muito pelo contrário, é necessário lembrar que mesmo sendo legalizados e muito importantes para tratamentos, os remédios são drogas e se utilizados de forma inadequada podem desencadear dependência química”.
De acordo com a OMS, atualmente as reações adversas a medicamentos representam mais de 10% das internações hospitalares. “Remédios indicados por amigos ou parentes podem ocasionar sérios riscos à saúde, como mascaramento ou agravamento de sintomas, possibilidade de reações adversas ou até mesmo intoxicações. Por isso, pense duas vezes antes de repassar sua receita ou as orientações do seu médico para uma pessoa querida, você pode estar colocando a vida dela em risco”, aconselha Juliana Caixeta.
Um medicamento indicado para uma pessoa pode não ser indicado para outra pessoa, mesmo que os sintomas e o problema de saúde sejam parecidos. A médica destaca que existem outras implicações além dos sintomas que devem ser considerados na hora de prescrever. “Fatores como histórico de saúde de cada pessoa, questões alérgicas e idade têm grande influência na recomendação do remédio”, destaca a médica.
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