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Diário de uma quarentena

Texto: Karen Marques

Parei de contar os dias. Não sei mais se é a quarta ou quinta semana em isolamento social juntamente com meu cachorro. Agora são 12:06hs nem escovei os dentes, tive uma noite de insônia que nem um rivotril de 2mg ajudou e acordei com uma enxaqueca que precisa ser aliviada sem que haja necessidade de bater com a cabeça na parede. Assim decido começar a escrever. Sempre acreditei que as palavras libertam, que elas curam. Talvez eu precise colocar para fora para amenizar as estranhezas físicas que me ocorrem nesse momento.

Não sei vocês, mas todos os meus sentimentos estão potencializados. É como se sentir 1 kg de saudades estivesse carregado de mais 10 kg de saudades de bônus. E as vezes muitos sentimentos vem de uma única vez. Medo, raiva, impotência, saudade, ansiedade, solidão, amor, carência e nessa salada de frutas vemos como somos tão fortes por conseguir aguentar tantas coisas e tão frágeis por saber que nesse momento nada podemos fazer para ter o controle desse caos mundial.

Sempre ao acordar eu agradeço pela vida e no meio dessa turbulência sempre penso: Um dia de cada vez. Só por hoje não vou surtar. E amanhã eu repito as mesmas palavras, mas a verdade é que há dias que a gente quer surtar, dias em que precisamos surtar.

Eu que moro sozinha e que sempre gostei do silêncio da casa, hoje ele tornou-se ensurdecedor. Eu que sempre visito meus familiares e sempre volto para dormir na minha casa, hoje queria o aconchego do colo da minha avó, da minha mãe, da minha sobrinha.

Sei que o texto está meio dramático, mas é só para expressar que está tudo bem não estar tudo bem. Que essa mistura de sentimentos vai fazer parte do nosso cotidiano até tudo isso terminar, e que podemos nos sentir meio revoltados sim. Ninguém é Namastê o dia todo. Ninguém é autossuficiente para ler, treinar, ficar bela e sorrir para as redes sociais. A realidade em quatro paredes é diferente. Então não se cobre por estar a flor da pele. Por muitas vezes não entender o que está passando na sua cabeça. Ninguém enviou um manual de sobrevivência desses dias. Estamos nos virando como podemos. Então quer surtar, surte. Amanhã é outro dia e só decida não surtar todo dia, porque pode ter certeza de que em algum lugar alguém sente sua falta e que também daria tudo para poder dar um longo abraço em você.

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